FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO
DA VIOLÊNCIA

ASPECTOS
INTRODUTÓRIOS
Os episódios de violência
intensificaram-se e tornaram-se comuns também em cidades pequenas e médias, deixando
de ser um fenômeno típico das grandes metrópoles. A violência direta é que chama
mais a atenção. Essa forma de violência acontece quando uma pessoa usa a força
contra outra. Porém, vemos crescer sempre mais as formas coletivas e organizadas
da prática de violência.
A violência se caracteriza
pelo uso intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um
grupo de pessoas. Essa violência pode resultar em dano físico, sexual, psicológico
ou morte. A violência não é um caso apenas reservado ao tratamento policial, à
lei, mas é uma questão social que requer a atenção e a participação de toda a sociedade
para ser enfrentada.
Nesta Campanha da
Fraternidade desejamos refletir a realidade da violência, rezar por todos os que
sofrem violência e unir as forças da comunidade para superá-la. Os índices da violência
no Brasil superam significativamente os números de países que se encontram em guerra
ou que são vítimas frequentes de atentados terroristas.
FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO
DA VIOLÊNCIA - VER
Ao longo da década
de 1990, cresceu significativamente o acesso aos equipamentos e aos serviços privados
de proteção. Todavia, essa aparente proteção também aumenta, colateralmente, o isolamento.
Mantém-se à distância não só o potencial inimigo, mas também o amigo.
Esse distanciamento
impede o confronto necessário e benéfico com o outro, abrindo portas para o estranhamento e o ódio contra quem pensa ou é diferente. O "outro" converte-se,
então, em mais uma ameaça à sensação individual de segurança.
Apesar de possuir
menos de 3% da população mundial, nosso país responde por quase 13% dos assassinatos no planeta. Em 2014, o Brasil chegou ao topo do ranking, considerado o número
absoluto de homicídios. Foram 59.627 mortes, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (lpea)
Entre os maiores
desafios contemporâneos no campo da segurança pública, em uma perspectiva de promoção à cidadania, está o de garantir que as políticas públicas implementadas tenham
em vista o aumento da solidariedade entre as pessoas, ao invés de enclausurá-las,
criando-se empecilhos ou mesmo impedindo relações interpessoais humanizadas. Não
existe a possibilidade de se encaminhar uma solução sem a ampla e irrestrita participação
da sociedade.

A EXPERIÊNCIA COTIDIANA
DA VIOLÊNCIA - No Brasil,cinco pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora.
A cada dia, são 123 pessoas assassinadas dessa forma. No ano de 2014, houve mais
de 40 mil mortes. A violência direta pode ter formas sutis sem, com isso, tornar-se
menos danosa. As redes sociais têm con
tribuído para dar
visibilidade à violência expressa sob a forma de preconceito ou ódio de classe,
de raça, de gênero, de política e até mesmo de intolerância religiosa.
É possível suspeitar
que a sociedade brasileira possa estar consolidando modos de vida cuja referência
é fazer justiça com as próprias forças.
Três fatores são
fundamentai s para definir esses espaços de paz e de guerra. O primeiro deles é
a ação (ou omissão) do poder público. O segundo ponto que demarca a ocorrência da
paz ou da guerra está relacionado ao poder
do dinheiro. Um terceiro ponto diz respeito ao tratamento seletivo dado pelos órgãos
públicos, dos três poderes, em relação à garantia de direitos, como o acesso à Justiça.

Vários estudos associam
o aumento da violência letal - ou seja, a violência que gera morte - ocorrido na
década de 1980 com a crise socioeconômica vivida naquele período. O processo inflacionário
e a consequente corrosão dos salários implicaram perda de rendimentos principalmente
para os mais pobres. Como resultado, aumentou
expressivamente a desigualdade social.
A violência não parece
ser redutível a uma disfunção ou mal funcionamento do aparato estatal. Mostra-se, antes, como
um processo de produção e de reprodução de desigualdades, resultante do próprio
modo de funcionamento das instituições.

A CULTURA DA VIOLÊNCIA
- Por "violência cultural" entendem-se as condições em razão das quais
uma determinada sociedade não reconhece como violência atos ou situações em que
determinadas pessoas são agredidas. Criam-se processos que fazem aparecer como legítimas
certas ações violentas.
Estudos feitos a
partir de inquéritos policiais mostram uma grande proporção de assassinatos cometidos
por impulso ou por motivos fúteis: ciúmes, desavenças entre vizinhos, desentendimentos
no trânsito e outras formas de conflito, nesse contexto, a reação violenta torna-se
naturalizada, como se a forma passional fosse a maneira única e "normal"
de reagir a uma situação conflitiva.
Entende-se que uma
certa dose de violência seria, inclusive, benéfica para manter as "pessoas
de bem" longe do crime e dar o "devido castigo" a quem deixou de
fazer "aquilo que é certo". Diferentemente da violência direta que pode
ser mais facilmente identificada e da violência estrutural da qual se veem traços mais ou menos definidos,
a violência cultural pode ser mais esquiva.

Passaram-se as décadas,
mas, no Brasil, foi se instituindo apenas uma igualdade formal dos indivíduos. Mesclam-se
as distinções sociais e as econôm1cas de tal forma que se forja uma sociedade altamente
hie rarquizada - baseada em relações de mando e subordinação, ao invés de fundar-se
na igualdade de direitos e na imparcial obediência às leis.
O Brasil é um país
perigoso para quem atua em favor da igualdade de direitos. 66 defensores dos direitos
humanos foram assassinados no Brasil em 2016. O modo violento de se viver em sociedade
no Brasil se dá por causa da escolha de alguns grupos que, ao tentar manter a atual
ordem estabelecida, acaba tornando alguns modelos fixos e sem alteração, nesse caso
é complexo o enfrentamento da violência, pois prejudica as relações sociopolíticas.

AS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA
NO BRASIL CONTEMPORÂNEO:
VIOLÊNCIA RACIAL - Suposição de que existam raças humanas
distintas e de que umas são superiores a outras. Nessa mentalidade, o sujeito considera
inferiores as pessoas que não possuem as mesmas características que ele.

VIOLÊNCIA CONTRA
MULHERES E HOMENS - 13 homicídios diários, em média -, o Brasil ocupa a quinta colocação
em uma lista de 83 países. Ocorrem aqui 2,4 vezes mais homicídios de mulheres do
que a média internacional. A cada três vítimas de violência, duas eram mulheres.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
- 71,8% das agressões registradas pelo SUS em 2011 aconteceram no domicílio da vítima.
Casos de violência são mais frequentes contra mulheres jovens. Uma em cada seis
pessoas (16%) com mais de 60 anos de idade já sofreram algum tipo de abuso.
VIOLÊNCIA E NARCOTRÁFICO
- O narcotráfico movimenta mais de 400 bilhões de dólares por ano, sendo um dos
setores mais lucrativos da economia mundial. Ao invés de os governos nacionais e
os sistemas
internacionais de
combate às drogas somarem esforços no combate à produção e distribuição das drogas,
onde se encontram
os grandes traficantes, a política de repressão às drogas está seletivamente direcionada
aos usuários e microtraficantes.
40% dos nove milhões
de presos em todo o mundo foram aprisionados em razão do comércio e do uso de substâncias
consideradas ilícitas. Perfil do encarcerado: 67% dos presos no Brasil são negros,
56% têm entre 18 e 29 anos, e 53% não completaram sequer o Ensino Fundamental. No
caso do encarceramento feminino, 63% das mulheres estão presas por tráfico de drogas.
INEFICIÊNCIA DO APARATO
JUDICIAL - O Brasil tem umas das maiores populações carcerárias do mundo. São mais de 650 mil
presos, vivendo em condições degradantes.
Ao invés de praticar
os ideais de recuperação e reintegração da pessoa apenada à sociedade, as prisões
se transformam em um depósito de supostos "maus elementos" a serem reprimidos
e, se possível, esque cidos pela sociedade.
POLÍCIA E VIOLÊNCIA
- é comum que se enxergue, como única solução para o problema da violência, o aumento
do policiamento e o recrudescimento das leis penais. Esta não é a solução!
RELIGIÃO E VIOLÊNCIA
- A religião é um elemento de coesão social, que otimiza o capital social das comunidades. Quando as pessoas se reúnem em comunidade e na identidade de suas crenças,
elas reforçam os laços que as unem e reconhecem-se como irmãos, irmãs e semelhantes.
Contudo, também é possível que a experiência religiosa também se converta em
uma forma de violência. No Brasil, tem sido comum a intolerância e o fanatismo religioso.